sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dona Nenzinha

        Alimentou-se apressadamente,  como se algo lhe determinasse a urgência.Tinha muita fome.Seu corpo, já desalojado de carnes claudicava e se envergava como se carregasse pesado fardo.Apesar de esquálida chegara aos oitenta anos ,mas se sentia exausta e triste por tanta vida miserável que lhe fora concedida.Mas se conformava e dizia ser a vontade de Deus. Para sobreviver, com seus parcos alimentos, dependia da benevolência de São José.A tecnologia ainda não chegara ao seu roçado.Os fantasmas já começavam a lhe visitar contando-lhe histórias de outras vidas mais abastadas menos miúdas , menos insignificantes.No sertão fincara suas raízes, e ali mesmo viria a florescer quando as águas desabassem do céu e umedecesse aquela terra castigada e quase desconhecida no mapa do Estado.Por enquanto se irmanava aos galhos secos e com eles dividia a sua existência sombreada pela desesperança.Era taciturna, nada revelava de  de si e de sua vida inóspita. O seu rosto, extremamente vincado pela labuta incessante de sol a sol,se tornara uma máscara imutável infanciando-se vez por outra nos devaneios.Aprendera a economizar tudo até as poucas palavras que aprendera para se comunicar.Somente era lembrada à época das eleições.Naqueles dias reverberava,
recebia um abraço e um olhar interessado.Valia um voto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário